Como
é que a humanidade se confrontou com as epidemias/pandemias ao longo da
História?
TRABALHO DE PESQUISA
- depois de leres os
textos e anotar a fonte donde foram retirados, segue o seguinte guião.
Introdução
Desenvolvimento:
1.1. Distinguir: epidemia
de pandemia
1.2.A partir da tabela, faz
a media do tempo de ocorrência, número de vítimas. Refere as soluções.
1.3.Caraterizar duas
pandemias: uma até ao século XX inclusive e outra do século XXI : origem(ns);
características; dificuldades criadas;
soluções.
1.4. O papel de Ricardo
Jorge e Luís Pestana
Conclusão:
O que podemos aprender com a experiência do
passado?
Critérios de
avaliação : Qualidade da informação escrita escrita; Conteúdo (devem incluir imagens); Tratamento
da informação; Cumprimento da calendarização.
Apresentação oral: Curta, Incidir apenas sobre as principais ideias. Não ocupar mais de 10 minutos.
O teu
trabalho deve ter: Título; Introdução; desenvolvimento do tema e Conclusão
Webgrafia/Bibliografia
Data, local da realização e assinatura
Prazo: até à próxima semana
Como
é que a humanidade se confrontou com as epidemias/pandemias ao longo da
História?
A história das
pandemias
Pan · dem · ic /
panˈdemik / (de uma doença) prevalece em todo um país ou no mundo.
Como os humanos se
expandem pelo mundo, o mesmo acontece com as doenças infeciosas. Até na nossa
era moderna, os surtos são quase constantes, embora nem todos os surtos atinjam
um nível de pandemia como o COVID-19.
Sempre existiram
pandemias ao longo da história, no entanto, a sua disseminação aumentou com a
passagem do homem de recoletor a agricultor e pastor.
O aumento do comércio
criou novas oportunidades para interações humanas e animais que aceleraram
essas epidemias como: malária, tuberculose, hanseníase, gripe, varíola e
outras.
Quanto mais os humanos se
tornaram mais civilizados, construindo cidades maiores, rotas comercias mais exóticas e maior contato com
diferentes populações de pessoas, animais e ecossistemas, maior foi a
probabilidade de ocorrência de pandemias.
Algumas pandemias que ocorreram, ao longo do tempo, foram :
Nome |
Período |
Tipo |
Nº
de mortes |
Praga
de Antonino |
165-180 |
Anfitrião
pré-humano |
5
M |
Epidemia
de varíola japonesa |
735-737 |
Vírus
da variola major
|
1
M |
Praga
de Justiniano |
541-542 |
Bactérias
Yersinia pestis / Ratos, pulgas |
30-50
M |
Peste
Negra |
1347-1351 |
Bactérias
Yersinia pestis / Ratos, pulgas |
200
Milhões |
Surto
de varíola no Novo Mundo |
1520
- em diante |
vírus
principal de Variola |
56
M |
Grande
Praga de Londres |
1665 |
Bactérias
Yersinia pestis / Ratos, pulgas |
100.000 |
Praga
italiana |
1629-1631 |
Bactérias
Yersinia pestis / Ratos, pulgas |
1M |
Pandemia
de cólera 1-6 |
1817-1923 |
bactérias
V. cholerae
|
1M
+ |
Terceira
Praga |
1885 |
Bactéria
Yersinia pestis / Ratos, pulgas |
12
M (China
e Índia) |
Febre
Amarela |
Final
do século XIX |
Vírus
/Mosquitos |
100.000-150.000
(EUA) |
Gripe
russa |
1889-1890 |
Pensa-se
que seja H2N2 (origem aviária) |
1
M |
Peste
Bubónica |
1899
(Porto) |
Bactérias
Yersinia pestis / Ratos, pulgas ? |
132 |
Vírus
da gripe espanhola |
1918-1920 |
H1N1
/ porcos
|
40-50
M |
Tifo |
1918
e 1922. |
bactéria
Rickettsia prowazeki – ratos, pulgas |
3
M |
Vírus
da gripe asiática |
1957-1958 |
H2N2
1
|
1
M |
Gripe
Hong Kong |
1968-1970 |
Vírus
H3N2
|
1M |
HIV
/ Aids
|
1981 |
vírus
/ chimpanzés
|
25-35M |
Gripe
suína |
2009-2010 |
vírus
H1N1 / porcos
|
200.000 |
SARS |
2002-2003 |
Coronavírus
/ Morcegos, Civets |
770 |
Ebola |
2014-2016 |
Ebolavírus
/ Animais selvagens |
11.000 |
MERS |
2015
-Presente |
Coronavírus
/ Morcegos,camelos |
850 |
Covid 19 | Presente |
vírus
Sars-CoV-2/ morcegos /pangolim |
4.455.000 |
https://super.abril.com.br/saude/as-grandes-epidemias-ao-longo-da-historia/
https://jra.abae.pt/plataforma/artigo/registos-diarioscovid-19alvito/
Nota: Muitos dos números de mortos apontados acima são estimativas com
base nas pesquisas disponíveis. Alguns, como a Praga da Gripe Justiniana e
Suína, estão sujeitos a debate com base em novas evidências.
Apesar da persistência de
doenças e pandemias ao longo da história, há uma tendência de redução gradual da
taxa de mortalidade. As melhorias na assistência médica e a compreensão dos
fatores que determinam as pandemias têm sido ferramentas poderosas para mitigar
o seu impacto.
Razões:
Nas sociedades antigas, as pessoas acreditavam que espíritos e deuses
infligiam doenças e destruição àqueles que mereciam a sua ira. Essa percepção
não científica levou muitas vezes a respostas desastrosas que resultaram na
morte de milhares, senão milhões de pessoas. No caso da praga de Justiniano, o
historiador bizantino Procópio de Cesareia traçou as origens da praga (a
bactéria Yersinia pestis) até a China e o nordeste da Índia, através de rotas
comerciais terrestres e marítimas para o Egito, onde entrou no Império
Bizantino através de portos mediterrâneos. Apesar do aparente conhecimento do
papel que a geografia e o comércio desempenharam na sua expansão, Procópio
culpou o imperador Justiniano pelo ataque, declarando-o um demónio, invocando a
punição de Deus pelos seus males. Alguns historiadores descobriram que esse
acontecimento impediu o imperador Justiniano de reunificar o Império Romano do
ocidente e do Oriente, marcando o início da Idade Média.
A prática da
quarentena iniciou-se durante o século XIV, com o objetivo de proteger as
cidades costeiras das epidemias da peste. As autoridades portuárias exigiam que
os navios que chegassem a Veneza provenientes dos portos infetados estivessem
ancorados por 40 dias antes do desembarque – a palavra tem a origem no italiano
“quaranta giorni”, ou 40 dias.
Um dos primeiros
estudos baseados na disseminação geográfica e análise estatística ocorreu em
Londres em meados do século 19, durante um surto de cólera. Em 1854, o Dr. John
Snow chegou à conclusão de que o trajeto da água contaminada estava a
disseminar a cólera, pelo que fez um mapa com os dados os dados de mortalidade
por vizinhança. Esse método revelou um conjunto de casos relacionados com uma
bomba que servia um determinado grupo de pessoas.
Enquanto as interações
criadas através do comércio e da vida urbana desempenham um papel central, a natureza virulenta de doenças específicas que acompanham essa mesma trajetória podem
caracterizar uma pandemia.
Os cientistas usam uma medida básica para fazer o rastreio da
infeciosidade de uma doença, chamada número de reprodução - também conhecido
como R0 ou "R nada". Este número mostra-nos a capacidade de infeção
por pessoa. O sarampo está no topo da lista, sendo o mais contagioso com uma
faixa de R0 de 12 a 18. Isso significa que uma única pessoa pode infectar, em
média, 12 a 18 pessoas não vacinadas. (…)
Quanto mais as pessoas são imunes a uma doença, menor a probabilidade
de proliferação, sendo a vacinação muito importante para evitar o ressurgimento
de doenças conhecidas e tratáveis. É difícil calcular e prever o verdadeiro
impacto do COVID-19, pois o surto ainda está em desenvolvimento e os
pesquisadores ainda estão a aprender sobre esta nova forma de coronavírus.
Urbanização e disseminação de
doenças
(…) Desde pequenas tribos de
caça e recoleção até à existência de cidades, a dependência da humanidade entre
si, também gerou oportunidades para a propagação de doenças. A urbanização no
mundo em desenvolvimento está a trazer cada vez mais moradores rurais para
bairros mais densos, enquanto o aumento da população está a pressionar cada vez
mais o meio ambiente. Ao mesmo tempo, o tráfego aéreo de passageiros quase
duplicou, na última década. Essas macros tendências estão a ter um profundo
impacto na propagação de doenças infeciosas. Como organizações e governos ao
redor do mundo pedem aos cidadãos que pratiquem o distanciamento social para
ajudar a reduzir a taxa de infeção, o mundo digital está a permitir que as
pessoas mantenham conexões e comércio como nunca..
(…)
As grandes epidemias ao longo da história
O mundo já
enfrentou diversas epidemias globais, com números catastróficos:
Peste Bubónica
50 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1333 a 1351
História:
A peste negra surgiu na China, em 1349. Seguiu a rota de
caravanas da seda e em 1347 atingiu os comerciantes genoveses que dominavam a
cidade de Caffa, na Crimeia, junto do mar Negro. Essa região era, muitas vezes
atacada pelo Tártaros. Em 1347, os Tártaros cercaram a cidade e durante o cerco
foram atacados de peste pelo que tiveram que se retirar, no entanto, antes,
atiraram um cadáver infetado para dentro das muralhas.
Os genoveses ganharam a batalha, mas contraíram a doença. Os que
não morreram transportaram a peste para várias cidades do Mediterrâneo e daí
para toda a Europa e Norte de África, semeando pânico, a miséria e a fome.
Quando se percebeu que os barcos traziam a peste, foram
proibidos de atracar nos portos. Por vezes, morria toda a gente, em barcos
carregados de sedas e pedras preciosas que ninguém queria.
Era a peste bubónica que foi designada de peste negra por se
tratar da pior epidemia que atingiu a Europa, no século XIV. Foi diminuindo à
medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades, diminuindo a
população de ratos urbanos.
Contaminação: Causada
pela bactéria Yersinia
pestis, comum em roedores como o rato. É transmitida para o homem
pela pulga desses animais contaminados
Sintomas: Inflamação
dos gânglios linfáticos, seguida de tremores, dores localizadas, apatia,
vertigem e febre alta
Tratamento/práticas: À base
de antibióticos. Sem tratamento, mata em 60% dos casos. No século XIV, achava-se
que alimentos frios, húmidos e aquosos ajudavam a combater a peste. Houve
quem prescrevesse xarope de urina coada
por um pano para desempestar o ar ou que bocados de pão fresco na boca dos
moribundos podiam absorver o veneno.
Os médicos aconselharam o papa Clemente VI a manter-se sempre
entre duas fogueiras, para que estas purificassem o ar.
Uma media eficaz foi a quarentena posta pela primeira vez em
prática pelos habitantes de Ragusa. Obrigava todas as pessoas que vinham de
fora a ficar isoladas por 40 dias.
Consequências: A Peste Negra é considerada a maior epidemia da história da
humanidade. Acredita-se que ao fim da Idade Média, no século XIV, o número de
mortos tenha variado entre 75 e 200 milhões de pessoas o que resulta em um
terço da população do continente europeu. Parte da Ásia e o norte da África
também foram regiões bastante atingidas.
Teve consequências religiosas, sociais e económicas, afetando
drasticamente o curso da história europeia.
Em Itália pensava-se que pensar em coisas agradáveis, ouvir
histórias e lindas canções ou contemplar ouro, prata, pedras preciosas fazia
desviar a doença. Esta atitude face ao belo pode ter influenciado a mentalidade
renascentista.
https://super.abril.com.br/saude/as-grandes-epidemias-ao-longo-da-historia/
Magalhães, Ana Maria;
Alçada, Isabel, (1986), O Ano da peste Negra, Caminho
A Peste Negra no Portugal Medieval: A História e a Ciência entre o Passado
e o Presente
(…) A Peste Negra é a designação tradicionalmente aplicada ao surto
inaugural da segunda pandemia de peste, que se prolongou até ao século XIX.
Devastou a Europa entre 1347 e 1353, ainda que, na maioria dos territórios, se
tenha tratado de um fenómeno concentrado em poucos meses.
A expressão não é da época. Trata-se de uma fórmula adaptada a partir de
crónicas escandinavas do século XVII, por historiadores oitocentistas, e que
acabou por se tornar canónica. Essa expressão traduz-se literalmente por “Morte
Negra”, forma que se mantém nas línguas germânicas (como a Black Death inglesa).
Nas línguas românicas, acabou por cristalizar sob a forma de Peste Negra.
Durante séculos, foi recordada como a “Grande Peste” ou a “primeira peste”, por
exemplo.
A peste é uma zoonose, ou seja, uma doença típica de um conjunto de
animais, (neste caso, alguns roedores) que afeta o homem por acidente. É
provocada pela bactéria Yersinia pestis, e manifesta-se de várias
formas, das quais as mais comuns são a bubónica (através do sistema linfático,
que provoca inchaços terríveis nos gânglios linfáticos, os bubões), a
pneumónica (primária ou secundária, quando a infeção atinge os pulmões) e a
septicémica (quando se produz uma infeção generalizada). A infeção faz-se
através de um inseto vetor (certas espécies de pulgas dos roedores) que
injetam a bactéria quando se alimentam nos seus hospedeiros, ou se contaminam
com ela quando picam hospedeiros infetados.
Em Portugal, a entrada ter-se-á feito no início do verão de 1348, e não no
início do outono, como algumas fontes indicam, e, provavelmente, prolongou-se
até aos primeiros meses de 1349. A contaminação inicial deverá ter acontecido
por via marítima, através dos portos portugueses mais movimentados, com Lisboa
e Porto à cabeça.
O Triunfo da
Morte de Pieter Bruegel, o Velho, c.
1562.
(…) O impacto da Peste parece ser transversal a toda a Europa, Médio
Oriente e Norte de África (pelo menos). Porém, as várias vertentes desse
impacto são alcançáveis de maneira distinta em cada um dos territórios. Os estudos
dedicados às regiões mais bem documentadas (Inglaterra, Norte de França, Norte
de Itália, etc.) focam-se, em primeiro lugar, no impacto demográfico – seja
através da mortalidade propriamente dita, ou da reorganização dos
sobreviventes, como as alterações nos casamentos e nas estruturas familiares;
esta análise acaba por nos conduzir às questões socioeconómicas, de maior
alcance temporal e – se os vestígios e os testemunhos sobreviventes tiverem
essa riqueza – à influência que o fenómeno teve nas mentalidades coletivas, na
arte e na espiritualidade.
Danse
Macabre de Bernt Notke (Igreja de São Nicolau, Talín, Estónia, século XV).
Os médicos da época não tinham uma ideia concreta sobre a causa da doença.
Imagino que isso terá aumentado o pânico e causado dificuldades acrescidas no
combate à doença. O que nos dizem as fontes históricas sobre eventuais
estratégias de contenção da propagação da Peste Negra, por parte das
autoridades, e da forma como a sociedade reagiu à peste?
Há um conjunto de práticas de profilaxia que associamos à peste. Uma dela é
precisamente a quarentena, que foi desenvolvida, em moldes mais ou menos
parecidos com aqueles que conhecemos, logo na segunda metade do século XIV, no
Mediterrâneo cristão. Contudo, é preciso sublinhar que se trata de um processo
longo. Quando a Peste Negra atinge a Europa, é a primeira epidemia da doença
que atinge o continente em 600 anos. Claro que terão existido pequenas
epidemias aqui e acolá, mas nada com o alcance, velocidade e impacto da peste.
Por isso, os gestos típicos associados à doença não se aplicam na sua
totalidade a este primeiro surto. Certamente, quem podia acabou por fugir, mas
não o fez ao primeiro sinal de peste: sobretudo porque, no início, ninguém
podia saber bem com o que estava a lidar. Com a evolução dos surtos regionais
da pandemia, as autoridades procuraram reagir.
(…) Na Península Ibérica, por exemplo, há uma profusão de tratados contra a
peste, rapidamente produzidos no espaço mediterrânico – sobretudo Catalunha e
reino nazarí de Granada, o último reino muçulmano da Península. Estes tratados
procuravam, sobretudo, prevenir a doença.
De resto, a medicina medieval, como a antiga, sempre se focou mais na
conservação da saúde do que na sua recuperação. Na Peste Negra, as autoridades e
as populações foram apanhadas desprevenidas e não sabiam muito bem como agir.
Mas, ao contrário de muitos contemporâneos, aprenderam com os acontecimentos, e
procuraram proteger-se de surtos
posteriores, num processo de décadas, transversal à Europa, que envolve
quarentenas portuárias, mais tratados de peste, cordões sanitários primitivos,
limpeza possível de espaços públicos, etc., tudo o que evitasse a corrupção do
ar por miasmas pestilenciais ou a importação destes. O segredo, segundo
estes homens, estava na prevenção ou no
rápido estrangulamento de um eventual surto, o que reflete o
reconhecimento da incapacidade de curar a doença e procura evitar males
maiores, caos, mortes em massa e disrupção social.
Danse Macabre de Michael Wolgemut, Crónica de Nuremberga de Hartmann Schedel, 1493
“Há um conjunto de práticas de profilaxia que associamos à peste. Uma dela
é precisamente a quarentena, que foi desenvolvida logo na segunda metade do
século XIV, no Mediterrâneo cristão”.
As últimas centúrias da Idade Média foram
marcadas por um crescimento das cidades, associado ao desenvolvimento do
comércio. O mapa epidemiológico da COVID-19 em Portugal revela uma maior
concentração de casos nos aglomerados urbanos, especialmente do litoral. À
semelhança do que observamos atualmente, é espectável que as cidades do
Portugal medieval tenham sido mais afetadas pela Peste Negra, comparativamente
às áreas rurais?
Nos últimos anos, tem vindo a ser posta em causa a maior incidência de
peste em meio urbano. Parece que a doença podia ser tão ou mais impactantes nas
áreas rurais. As cidades nunca podem ser artificialmente separadas de um espaço
rural com o qual criaram uma relação de dependência mútua. De qualquer forma,
será verdade que as cidades actuam como meios privilegiados de contaminação de
áreas alargadas, isto é, a partir de uma cidade ou vila, seria contaminada toda
a área rural circundante e dela dependente. No caso da Peste Negra, pelo menos
numa primeira fase, a doença é introduzida quase sempre por via marítima. Os
barcos transportavam ratos com pulgas contaminadas, e a propagação fazia-se
mais eficazmente por mar, onde o transporte era mais rápido e volumoso. A
partir daí, dar-se-ia a propagação para o interior das regiões. Este deve ter
sido o cenário mais habitual, mas não o único. (…)
Que estratos da sociedade estiveram mais expostos à doença?
Apesar de ter atingido todos os estratos da sociedade, a peste acabou por
afetar mais os que estavam mais expostos. Os mais pobres, os serviçais, etc.
Porém, nenhum homem, medieval ou moderno, estava livre de poder ser mordido por
uma pulga ou cruzar-se com uma carcaça de um rato, pronta a libertar uma mão
cheia de vetores infetados.
A esta certa democracia do macabro, soma-se o fator de novidade da Peste
Negra. Creio que é demonstrável que houve mais grupos particularmente expostos
à doença na primeira grande epidemia. Porquê? Porque não sabiam com o que
lidavam: os clérigos e os tabeliães, ambos pelo mesmo motivo. Os clérigos não
terão tido mãos a medir, face às solicitações dos últimos sacramentos dos
moribundos. E, numa primeira fase, deslocar-se-iam sem restrições, pelo que
devem ter sido particularmente afetados. Naturalmente, seria o clero paroquial
o primeiro a ser atingido, devido às suas responsabilidades com a sua
comunidade. Mas, em breve, as substituições sucessivas acabavam por afastar os
clérigos mais renitentes e começavam a subir a hierarquia da igreja.
Outro grupo que terá sido bastante afetado nesta primeira epidemia foi o
dos tabeliães. Estes homens, os notários daquele tempo, lidavam com o público
diariamente e, tal como os padres, visitariam muitos moribundos para redação
dos respetivos testamentos, ou validação legal de algum pré-existente.
Neste momento, com o que (não) sabemos sobre a população portuguesa
medieval, é muito difícil apontar valores ou ordens de grandeza. Qualquer
estimativa teria em conta valores populacionais muito vagos e seria tão inútil
quanto artificial. Instintiva e qualitativamente, não parece ser uma
mortalidade que atinja valores como os impressionantes 50 ou 65% de outras
áreas da Europa. Mas foi, com certeza, muito elevada, muito rápida e
profundamente desestabilizadora.
(…)
A História é fundamental na compreensão dos comportamentos perante a
doença, individuais e coletivos, e a análise comparativa é uma ferramenta
fundamental para isso. (…)
É verdade que hoje, e cada vez mais, o impacto de uma pandemia se medirá
sobretudo em índices económicos e sociais, e menos em mortalidade. Mas as
epidemias do passado, sobretudo as mais impactantes, também tiveram
consequências socioeconómicas de longo prazo e grande alcance. (…)
Fontes:
SILVA, André
(2019) – “A Peste Negra no Portugal de trezentos: Impacto e Consequências – Um
Projeto de Doutoramento” in Incipit 7 – Workshop de Estudos Medievais
10: Workshop de Estudos Medievais 10, Porto, Portugal,
58-68. Porto, Portugal: Biblioteca Digital, Faculdade de Letras da Universidade
do Porto.
BENEDICTOW, Ole J. (2004) – The Black Death, 1346-1353: The
Complete History. Boydell Press, Suffolk.
Magalhães, Ana Maria;
Alçada, Isabel, (1986), O Ano da peste Negra, Caminho
Máscara usada na Europa, no século XIV, contra
a peste negra.
Fonte: @antrophistoria
Ao longo da história a
humanidade já sofreu diversas epidemias, propagadas por vírus, bactérias, ou
outros micro-organismos, tais como:
Peste
Bubónica
Reunião de comerciantes e homens de negócios do Porto,
no Palácio da Bolsa, para discutir o impedimento à economia da cidade provocada
pelo cordão sanitário CENTRO
PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA
A peste bubónica afetou a cidade do Porto, em 1899, Os
primeiros casos surgiram em Agosto de 1899, com epicentro na Rua da Fonte Taurina, na Ribeira do
Porto. Após estalar a notícia do surto, a primeira reação popular foi a de
êxodo, como pode ler-se na tese de mestrado de David Pontes, diretor-adjunto do
PÚBLICO, sobre o tema. Milhares
de pessoas, temendo não a doença, mas os cortes no abastecimento de alimentos e
bens de primeira necessidade, abandonaram a cidade – expondo assim o restante
território ao perigo de contágio. Este foi o primeiro erro.
O governo local não tardou a fechar as fronteiras da
cidade, por terra e por mar. Cerca de 2.500 militares de infantaria garantiram
a eficácia do cerco, que duraria até à véspera de Natal de 1899. O condicionamento
da entrada e saída de mercadorias precipitou a suspensão da atividade fabril e
os despedimentos seguiram-se, originando uma onda de alarme e desespero entre a
população.
No centro do Porto, as operações de desinfeção de
habitações multiplicavam-se. As casas onde se registaram vítimas foram
queimadas, deixando alguns moradores desalojados, como é visível nas imagens de
arquivo cedidas pelo Arquivo Municipal do Porto. Gerou-se uma onda de ceticismo relativamente à
existência da doença, o que conduziu os cidadãos para as ruas, em protesto, em
grandes aglomerados. Várias equipas de controlo sanitário foram apedrejadas no
decorrer da sua atividade.
A 24 de Agosto, centenas de comerciantes e homens de negócios do Porto reuniram-se no Palácio da Bolsa, para discutir os impedimentos provocados pelo cordão sanitário à economia da cidade, evento captado por Aurélio da Paz dos Reis. A epidemia tornou-se conhecida e expôs, internacionalmente, as parcas condições de vida dos moradores da zona da Ribeira. Casas escuras, pouco ventiladas e sobrelotadas potenciavam a disseminação do bacilo de Yersin. Foram 182 as vítimas mortais deste surto, só no Porto. A epidemia estendeu-se a outras cidades portuguesas e estrangeiras, causando ainda mais baixas.
Que estranha doença estaria a matar (…) no Porto? A dúvida instalou-se no longínquo verão de 1899, levando a autoridade de saúde a investigar. Os responsáveis ficaram incrédulos face às primeiras impressões, porque, ao que tudo indicava, tratava-se da peste, essa que já se pensava não voltaria a matar. E o poder político só acreditou quando, de Paris, vieram os resultados que confirmaram o que os investigadores portugueses, com Ricardo Jorge à cabeça, já tinham garantido: a peste de levante, como antes se chamava, agora batizada de bubónica, estava a dizimar as populações mais pobres e frágeis da cidade. Era preciso fechar tudo para controlar a doença!
A decisão de Ricardo Jorge, então médico municipal, não foi bem aceite, inicialmente pelos governantes, que temiam os resultados eleitorais dessa medida impopular e muito menos pelas “forças vivas” do Porto, com a imprensa e os comerciantes a serem responsáveis pelas atitudes mais violentas, chegando a por em causa a veracidade da epidemia.
A
segunda cidade do País esteve isolada durante quatro meses. O cerco sanitário,
imposto pela tropa, conteve o mal mas, apesar das medidas de desinfeção tomadas
– na imagem, a casa onde teve início o surto e que foi incendiada por prevenção
- não impediu o contágio interno sobretudo entre os muitos que viviam em
espaços lotados e sem condições.
Foram infetadas 320 pessoas, 132 das quais morreram.
Dr. Luís Pestana
Talvez o mais famoso dos casos mortais tenha sido o de Luís Câmara Pestana (na imagem). O investigador esteve por duas vezes no Porto na arriscada tarefa de recolher fluidos e outros materiais biológicos dos pestilentos, para melhor conhecer a moléstia e assim contribuir para a sua cura.
Nessa
ânsia, não tomou as devidas precauções, tendo usado as unhas, sem luvas, para
espremer um bubão – gânglio inflamado – de um dos cadáveres. Em pouco tempo,
percebeu que não resistiria. Isolou-se e fez questão que recolhessem a sua
própria urina para ajudar ao conhecimento da maleita.
A sua
morte, que teve grande impacto na opinião pública, mostrou - como se fosse
preciso - que a peste não escolhe as vítimas, mas aproveita as imprudências.
………………..
Nota:
Ricardo de Almeida Jorge e Luís Câmara Pestana deixaram ampla obra e ainda hoje
são nomes muito mencionados quando se fala em saúde pública. Ricardo Jorge deu
nome ao instituto por si criado e que é hoje a principal referência em termos
laboratoriais no País. Luís Câmara Pestana deu nome ao instituto bacteriológico
especializado em investigação, hoje dependente da Reitoria da Universidade de
Lisboa. 12 de Março, 2020
Fonte
Hemeroteca
Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Brasil-Portugal
nº16 –
16 set. 1899
nº20 –
16 nov. 1899
nº21 –
1 dez. 1899
Vidas
surpreendentes, mortes insólitas na história de Portugal, de Ricardo Raimundo;
A esfera dos livros – outubro 2011
O cerco
da peste no Porto – Cidade, imprensa e saúde pública na crise sanitária de
1899>; dissertação de mestrado em história contemporânea de David Pontes;
Faculdade de Letras da Universidade do Porto – 2012
Imagens
Arquivo
Municipal do Porto
Foto
Guedes
F-NV/FG-M/9/628(1)
F-NV/FG-M/9/1122
F-NV/FG-M/9/628(2)
Hemeroteca Digital de Lisboa
Brasil-Portugal
nº16 – 16 set. 1899
https://ars-curandi.wikia.org/pt/wiki/Lu%C3%ADs_da_C%C3%A2mara_Pestana
Foto de Aurélio Paz dos Reis, cedida por Centro Português de Fotografia,
brigada de desinfeção
Depois de o médico investigador Ricardo Jorge comunicar o aparecimento de
peste bubónica no Porto, em 1899, seguiram-se meses de agitação e revolta face
a Lisboa, por causa da imposição de um cordão sanitário
Gregorio Blanco, espanhol, 47 anos de idade, era carrejão de bordo e de
armazéns de porto e, ultimamente, carregava trigo para os armazéns da casa
Barreto. Há uns tempos que não andava a sentir-se bem. Achava-se “adoentado” e
queixava-se “d’uma pontada no lado direito”. A 5 de junho, “depois de um dia de
serviço, entrou no domicílio taciturno e cambaleante”, o que foi interpretado
por amigos e vizinhos como resultado de bebida a mais. “Foi à latrina, e como
se demorasse, os companheiros foram dar com ele já morto.” Nada demais a
assinalar. Enterre-se.
Alguns dias depois, porém, novas maleitas são sentidas em quem partilhava
com Gregorio o nº 88 da Rua Fonte Taurina, bem no coração da Ribeira. O mesmo
aconteceu em casas vizinhas. E, depois, em locais próximos: Rua dos Mercadores,
Escadas dos Guindais, Muro dos Bacalhoeiros… Ou noutros pontos da cidade, em
pessoas que, soube-se depois, tinham convivido em determinada altura com os
anteriores afetados.
Incêndios. O estado de insalubridade de alguns alojamentos obrigou a
queimadas por parte dos bombeiros. Foto de Aurélio Paz dos Reis, cedida por
Centro Português de Fotografia
A notícia de que andava por ali um “andaço” circulava de boca em boca. A 4
de julho, um mês depois da morte de Gregorio, “um negociante da Rua de S. João”
envia um bilhete ao diretor do Posto de Saúde Municipal, Ricardo Jorge,
alertando-o das maleitas de alguns que, entretanto, tinham resultado em óbitos.
Lente da Escola Médico-Cirúrgica, Ricardo Jorge envia primeiro um seu
funcionário ao local. Fica a saber que anda por ali “uma espécie de febre com
nascidas debaixo dos braços”, uns “bubões”. No dia 6, o médico mete pés ao
caminho. Correlaciona casos (dez infetados) e mortes (quatro), recolhe
amostras. No seu próprio laboratório bacteriológico – munido já de um
microscópio –, começa a não ter dúvidas: tudo indicava tratar-se da peste
bubónica, vulgo “peste negra”.
Foto de Aurélio Paz dos Reis, cedida por Centro Português de Fotografia
No dia 12 informa, por ofício, o governador civil da cidade, Pina Callado –
que, por sua vez, põe ao corrente as autoridades em Lisboa –, com a
recomendação de “internamento e isolamento de todos os contagiados”. A 28 de
julho reafirma a sua convicção, já com os resultados dos exames
bacteriológicos. A confirmação seria validada a 8 de agosto pelo diretor do
Instituto de Bacteriologia de Lisboa, Câmara Pestana (que morreria vítima da
própria peste pouco depois).
O calendário marcava o ano de 1899 e o bacilo tinha sido descoberto quatro
anos antes por Alexandre Yersin. Em 1840, esta peste tinha gerado uma epidemia
na província de Yunnan, na China. Cerca de 60 anos depois chegava ao Porto, sem
que alguma vez se tivesse identificado a sua porta de entrada.
Quando, a 17 de agosto, “o governo do progressista Luciano Castro” decreta
medidas de “defesa do reino” que, a 23, se reforçam com a imposição de um
cordão sanitário em torno da cidade “alargada” – que impedia entradas e saídas
do Porto –, já a confusão reina ali. Entre as duas datas, levam-se a cabo ações
de fiscalização e desinfeção em zonas portuárias e nas estações de caminho de
ferro. Mercadorias ficam paradas nos portos, sem chegarem às casas de comércio.
Estas, assim como algumas fábricas, encerram portas. Há gente que fica sem
emprego e, por isso, condena quem decreta a peste. Há manifestações nas ruas e
os jornais ajudam à missa. Diaboliza-se Ricardo Jorge, que passa a fazer-se
acompanhar por escolta policial, mesmo que nunca tenha defendido o cordão
sanitário. A burguesia, em franco progresso económico, vê a sua vida andar para
trás e convoca reuniões no átrio do Palácio da Bolsa. E contabilizam-se cerca
de 20 mil saídas da cidade antes da chegada das tropas, pois a quem tentasse
“iludir o cerco” aplicava-se “pena de prisão de três a seis meses”.
A situação piora quando surgem as tropas: Infantaria 3 de Viana do Castelo,
Infantaria 20 de Guimarães, Cavalaria 6 de Chaves, Cavalaria 10 de Aveiro.
Cerca de 2 500 homens deveriam estabelecer “um cerco militar que partia de Leça
da Palmeira, seguia o rio Leça, S. Mamede Infesta, Ermesinde, Valbom, passando
o rio Douro, em Avintes, e indo até ao mar, em Gaia, na zona da Madalena. O
cruzador Adamastor seria mobilizado para garantir o cerco marítimo”.
O “boicote” de Lisboa
Ninguém aceitou de bom grado uma decisão tomada pelo governo central e por
pessoas que nunca tinham posto os pés no terreno. As gentes do Porto viram
nesta medida uma “humilhação”. A burguesia e os comerciantes, que tinham criado
a ideia do Porto “cidade do trabalho”, olhavam a decisão de Lisboa como uma
forma de boicote aos tempos de prosperidade que viviam. Os políticos, alguns
republicanos, encaravam isto como uma consequência do movimento dos revoltosos
de 31 de janeiro, ocorrido oito anos antes (ainda por cima, tudo surgia em
tempo de eleições, nas quais foram eleitos, pela primeira vez, três
republicanos do Porto, apelidados de “deputados da peste”) e recordavam outro
cerco à cidade, durante a guerra civil de 1832-34. O governador civil, Pina
Callado, bem como o presidente da câmara, João Lima Júnior, demitiram-se, mas
as suas demissões não foram aceites. Ricardo Jorge, que considerou o cordão
sanitário “um disparate máximo”, acabou refugiando-se em Lisboa.
Os jornais – Comércio do Porto, Jornal de Notícias e Voz Pública –
negavam a peste, alimentavam polémicas em títulos de primeira página com
discursos de vitimização face à capital. Ao ponto de Lisboa considerar
“urgente” a necessidade de “pronta repressão” dos seus “desmandos”. Aos
processos juntou-se a suspensão. Para a driblar, o JN mudou de
nome duas vezes, para Notícias, primeiro, e Diário da Manhã,
depois. A verdade é que conseguiu, neste final do ano de 1899, aumentar a
tiragem de 16 mil para 22 mil exemplares.
Há gente que fica sem emprego e condena quem decreta a peste com
manifestações nas ruas
Tudo isto acabou por expor uma cidade pobre e suja, com a sua classe
operária a viver em condições insalubres e sem saneamento básico. Abundavam os
ratos e as pulgas – talvez a razão mais plausível da transmissão do bacilo ao
homem. Houve desinfestação, casas queimadas.
Depois de ter sido nomeado inspetor-geral de saúde pública, em Lisboa,
Ricardo Jorge promove a criação do Instituto Central de Higiene, o que leva à
criação de uma Direção-Geral da Saúde. A epidemia foi naturalmente controlada.
O cordão sanitário foi levantado em dezembro, a tempo das festas de Natal.
Oficialmente, registaram-se 320 casos, com 132 óbitos. Mas há quem ainda hoje
defenda que “nunca mais o Porto foi o mesmo”. Instalou-se o ressentimento da
segunda maior cidade do País, “capital do Norte”, face ao poder de Lisboa.
Este texto foi escrito com base em: A Peste Bubónica no Porto, Ricardo Jorge; O cerco da peste no Porto, tese de mestrado de David Pontes; O Cerco – Sobre a epidemia de peste bubónica no Porto em 1899 e sobre a sua documentação fotográfica, ensaio de Renato Roque. Depoimento de Jorge Alves, docente de História da FLUP.
https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2020-03-22-epidemia-quando-a-peste-que-fechou-o-porto/
Gripe pneumónica, a pandemia de 1918-1919
Epidemia – doença que atinge elevado número de pessoas
Pandemia - ´designa uma epidemia generalizada.
https://ensina.rtp.pt/artigo/quando-a-epidemia-vira-pandemia/
https://ensina.rtp.pt/artigo/gripe-pneumonica-pandemia-1918-1919/
“A pneumónica, ou gripe
espanhola, matou dezenas de milhares de pessoas nos anos de 1918 e 1919. Foi a
maior pandemia mundial conhecida até hoje causando mais mortes que a Peste
Negra ao longo de vários séculos ou a I Guerra Mundial.”
Os estudos mais recentes apontam para a morte de
cinquenta a cem milhões de pessoas em todo o mundo, como resultado da pandemia
de gripe que durante dois anos lavrou pelos diversos continentes.
Em Portugal a Pneumónica ou Gripe Espanhola, chegou a
meio de 1918 e, em cerca de dois anos, dizimou dezenas de milhares de pessoas.
Algumas zonas do país perderam 10 por cento da sua população.
Na verdade, há estudiosos que apontam a sua origem nos
E.U.A. A verdade é qie circulou pelos exércitos, durante a 1ª Guerra Mundial.
Em Brest, França, em 1918, há um importante surto. A Portugal pode ter chegado
através dos portugueses que iam trabalhar em Espanha.
O combate à doença, liderado por Ricardo Jorge, então
diretor geral da saúde, passou pelo encerramento de escolas, a proibição de
feiras e romarias. Para assistir os doentes foram requisitados dezenas de
espaços públicos que passaram a funcionar com enfermarias, mas o número de
vítimas era tão grande que ao longo de várias semanas se viveu uma situação de
caos.
VER: RTP Ensina, (2015) História a história - Gripe pneumónica, a pandemia de
1918-1919
Nos jornais aparecem “medicamentos”
Pneumónica ou Gripe
Espanhola
Para manter o ânimo,
os censores da Primeira Guerra Mundial minimizaram os primeiros relatos de
doenças e sua mortalidade na Alemanha, Reino Unido, França e Estados Unidos. Na
Espanha neutra, houve maior liberdade de relatos. O próprio rei, Afonso XIII
foi afectado pela pandemia, o que cria a falsa impressão que a Espanha
estava a ser especialmente atingida.
Alguns pesquisadores
apontam o acampamento hospitalar em Étaples, na França, de tropas britânicas como centro da pneumónica, em 1917.
O historiador Alfred
W. Crosby defende que a gripe se originou no Kansas. Outros autores concluem
que a pneumónica já existia, no final de 1917, em pelo menos 14 campos
militares dos Estados Unidos.
Em agosto de 1918, uma
estirpe mais virulenta apareceu simultaneamente em Brest (França), Freetown
(Serra Leoa) e em Boston (Massachusetts),Irlanda, para onde foi transportada por soldados
irlandeses que retornavam a casa.[
Esta pandemia atingiu
sobretudo os jovens adultos porque atacava o seu melhor sistema imunológico.
Entre janeiro de 1918
e dezembro de 1920, esta pandemia matou pelo menos 50 milhões de pessoas. A
pandemia foi uma das mais letais da história humana. A estimativa foi que cerca
de 500 milhões de pessoas tenham sido infectadas pelo vírus influenza, o
causador da doença. Esta
propagava-se pelo espirro ou tosse, já que nesta situação, mais de meio milhão de partículas
do vírus podem-se espalhar para as pessoas próximas. As mudanças maciças de
tropas durante a Primeira Guerra Mundial aceleraram a pandemia e provavelmente
aumentaram a transmissão e as mutações.
Todos os exércitos que
se concentravam na Europa foram atingidos. Calcula-se que 80% dos soldados
americanos em combate morreram devido à essa doença.
Tuberculose
Em seu auge, entre os
anos de 1850 e 1950, o número de mortes por conta da tuberculose foi grande. A
doença infeciosa é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis.
que existe desde a Antiguidade e permanece ativa até os dias de hoje, sendo
altamente contagiosa.
A transmissão ocorre
de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias. O pulmão é o principal
órgão atacado. Os sintomas clássicos são tosse crónica com expulsão de sangue,
escarro, febre, suores noturnos e perda de peso. A infeção de outros órgãos
pode causar vários outros sintomas.
Atualmente, mais de
95% das mortes por tuberculose ocorrerem em países em vias de desenvolvimento,
principalmente Índia, China, Indonésia, Paquistão e Filipinas. Em 2016,no mundo
morreram 1,3 milhões de infetados.
Varíola
De 1896 a 1980, 300
milhões de pessoas morreram graças à varíola. A doença atormentou a humanidade
por aproximadamente três mil anos, sendo erradicada nos anos 80 após uma
campanha de vacinação em massa.
Nomes famosos como o
faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da
França foram vítimas da temida “bexiga”. O vírus Orthopoxvírus variolae era
transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias.
O inventor da vacina
foi o naturalista e médico britânico Edward Jenner.
AIDS
O vírus HIV foi
identificado em 1981, para o espanto da sociedade. Desde então, calcula-se que
aproximadamente 21 milhões de pessoas tenham morrido depois de contrair essa
doença.
É Incurável, sexualmente
transmissível (DST) mas, possui tratamento para conseguir prolongar a vida do
paciente. Os métodos de prevenção são bastante difundidos em todo o mundo,
sendo o principal deles, o uso de preservativos nas relações sexuais.
À medida que a doença
progride, ela interfere mais e mais no sistema imunológico, tornando a pessoa
muito mais propensa a ter outros tipos de doenças, como infeções oportunistas e
câncer.
Gripe Suína
A pandemia causada
pelo vírus H1N1 teve um surto global, com os primeiros casos surgindo no México
em março de 2009. No final do mês de abril, a OMS declarou Emergência de Saúde
Pública com Âmbito Internacional.
Estima-se que até 1,4
bilhões de pessoas tenham contraído o vírus, ou seja, 20% da população mundial.
Destes, 500 mil vieram a falecer.
Em agosto de 2010 foi
anunciado o fim da pandemia, meses depois de a vacina passar a ser distribuída.
Ébola
O primeiro caso de
contaminação pelo Ebolavirus aconteceu em 1976, na República
Democrática do Congo. Depois, ocorreram outros três grandes surtos, em 1995, em
2007, e mais recentemente, em 2014. Ao todo, mais de 12 mil pessoas perderam a
vida, a imensa maioria na África Ocidental.
O vírus tem uma taxa
de mortalidade de até 90%. Outros mamíferos também são contaminados. O vírus é
adquirido através do contacto com o sangue ou outros fluidos corporais de
alguém infetado, humano ou animal.
Além do custo humano,
o surto teve consequências severas nas economias dos países afetados. Um
relatório do Financial Times em 2014 sugeriu que o impacto económico do surto
poderia matar mais pessoas do que o próprio vírus.
Tifo
Mais de três milhões
de pessoas morreram entre 1918 e 1922 devido a um surto de Tifo. A doença tem
uma origem similar à Peste Negra, sendo transmitida por pulgas de ratos
infetados.
O ambiente de miséria,
falta de saneamento básico do pós Primeira Guerra Mundial tornou a Europa um
lugar extremamente propício para à propagação de doenças, já que os ratos eram
constantes.
As doenças do tifo são
provocadas por tipos específicos de infecções bacterianas. Não existe vacina
disponível no mercado. Hoje em dia os casos são raros, sendo mais presentes no
sudeste asiático.
https://tnsul.com/2020/destaque/as-grandes-epidemias-ao-longo-da-historia/
Crianças prontas para ir à escola em 1918, durante a influenza.
'Enfermeiras especiais que usam máscaras enquanto alimentam com biberons bébés prematuros, Impressão fotográfica - Hansel Mieth | Art.comhttps://www.pinterest.pt/pin/56506170316886038/
https://www.pinterest.pt/pin/248401735686379615/
Corona Party: Bar fez festa com coronavírus e a
polémica já é viral
O Esplanada & Bar 75, em Vila Maior, Santa Maria da Feira, anunciou a
festa com um propósito: para que “estejas preparado para uma contaminação”.
“Corona Party Sab 07
Março na Esplanada Bar 75 com o DJ Pedro Sousa, vamos oferecer máscaras à
entrada para que estejas preparado para uma contaminação”.
Foi assim que o Esplanada & Bar 75, em Vila Maior, concelho de Santa
Maria da Feira, promoveu a sua festa temática do último sábado. Uma festa muito
especial e ambientada no mais omnipresente dos temas: o novo coronavírus, no
caso utilizando o diminutivo que mais aproxima o vírus dos
bares, “corona”, como a marca da cerveja.
Imagem de promoção da festa ESPLANA BAR 75
O bar partilhou nas suas redes sociais, Instagram e Facebook, as fotos da festa, às dezenas, e a
polémica não se fez esperar. Nas imagens podem ver-se centenas de clientes com
máscaras, placas informativas oficiais das recomendações de como actuar com
a covid-19, até um “paciente” numa maca.
Numa das imagens lê-se uma placa com as “normas de acesso ao
estabelecimento”, que impõem o “uso obrigatório de máscara”.
Ao longo do Facebook e Instagram, são muitos os rostos sorridentes nos
retratos típicos que estas festas costumam captar e exibir. A diferença está que
neste Carnaval a máscara é sempre uma máscara de proteção hospitalar.
Isto porque o propósito, segundo adiantou o proprietário, era mesmo passar
informação sobre o surto e a doença e oferecer máscaras clínicas aos clientes.
Rui Guedes diz até ao jornal N, num artigo sobre a festa, que
aborda já a polémica, que as máscaras “foram difíceis de arranjar face à
rutura de stocks”.
“Mas conseguimos oferecer 200 máscaras e alguma informação sobre
a covid-19, presente num flyer. De forma lúdica, comercial e nada
alarmista, sinto que até fizemos um trabalho altruísta e de carácter social”,
diz o empresário à publicação, num artigo que o próprio bar partilhou no
Facebook e em que reconhece estar ciente deque iriam ser “muito criticados” nas
redes. O que se concretizou: nos posts da festa, as críticas
sucedem-se.
“Nota-se alguma falta de informação na sociedade e pior do que isso, alguma
‘desinformação’. Por essa razão quisemos ser diferentes e ser parte da
solução”, remata.
- Que respostas e
soluções encontrou a humanidade para fazer face à ameaça?
- O que podemos aprender com a experiência do
passado?
Lições
da Pandemia
(…) Ao longo da história humana e literária, o
que torna as pandemias semelhantes não é a comunidade de germes e vírus, mas as
respostas iniciais que se assemelham.
A resposta inicial ao surto de uma pandemia sempre foi negada. Os
governos nacionais e locais atrasam-se sempre para responder e distorcer fatos
e números manipulados para negar a
existência do surto.
Nas primeiras páginas
de “Um Jornal do Ano da Peste”, (…) Daniel Defoe relata que em 1664, as
autoridades locais, em alguns bairros de Londres, tentaram fazer com que o
número de mortes por pragas pareçam inferiores ao registrado por outras doenças
inventadas como causa registrada de morte.
No romance de 1827
"Os Noivos", talvez o romance mais realista já escrito sobre um surto
de peste, o escritor italiano Alessandro Manzoni descreve e apoia o desagrado da população local pela resposta oficial à
praga de 1630 em Milão. Apesar das evidências, o governador de Milão ignora a ameaça representada pela
doença e nem cancela as comemorações de aniversário de um príncipe local.
Manzoni mostrou que a praga se espalhou rapidamente porque as restrições introduzidas eram insuficientes, a sua aplicação
frouxa e os seus concidadãos não os atenderam.
Grande parte da
literatura sobre pragas e doenças contagiosas apresenta o descuido, a incompetência e o egoísmo dos que estão no
poder como o único instigador da fúria das massas.
(…)
“O
leito”,Gallo Gallina, DeAgostini/Getty Images
A outra resposta universal da humanidade às
pandemias sempre foi criar rumores e
espalhar informações falsas. Durante as pandemias passadas, os rumores foram
principalmente alimentados por informações erradas e pela impossibilidade de
ver o quadro completo.
Num mundo sem jornais, rádio, televisão ou
internet, a maioria analfabeta possuía, apenas, a sua imaginação para entender
onde estava o perigo, a sua severidade e a extensão do tormento que poderia
causar. (…) Os rumores mais comuns durante surtos de peste foram sobre quem trouxe a doença e de onde ela
veio.
Como o próprio mal, a
praga sempre foi retratada como algo que veio
de fora. Já havia atingido outro lugar antes, e não havia sido feito o
suficiente para contê-lo. No seu relato da propagação da praga em Atenas,
Tucídides observou que o surto tinha começado muito longe, na Etiópia e no
Egito.
A doença é estranha,
vem de fora, é trazida com intenção
maliciosa. Os rumores sobre a suposta identidade de seus portadores
originais são sempre os mais difundidos e populares.
(..) Essas explosões inesperadas e incontroláveis
de violência, boatos, pânico e rebelião são comuns nos relatos de
epidemias de peste, desde o Renascimento. Marco Aurélio culpou os cristãos, no
Império Romano, pela praga da varíola de Antonino, pois eles não cumpriam os
rituais aos deuses romanos. E durante as pragas subsequentes, os judeus foram
acusados de envenenar os poços, tanto no Império Otomano como na Europa
cristã.
Hoje, porém, temos acesso a um maior
volume de informações confiáveis sobre a pandemia do que as pessoas, alguma
vez, tiveram em qualquer pandemia anterior. É também isso que torna o medo tão
poderoso e justificável. O nosso terror é menos alimentado por rumores e mais
baseado em informações precisas.
(…)
Gravura mostrando
homens em um cemitério, preparando-se para colocar corpos em uma cova aberta
durante a Praga de Londres, a partir de “Um Diário do Ano da Praga” (1722), de
Daniel Defoe.
O terror que sentimos,
no entanto, exclui a imaginação e a individualidade, e revela quão
inesperadamente semelhantes são as nossas frágeis vidas e a humanidade
compartilhada. O medo, como o pensamento de morrer, faz-nos sentir sozinhos,
mas o reconhecimento de que todos estamos a experimentar uma angústia
semelhante tira-nos da nossa solidão.
Média do tempo:
180-165=15
737-735=2
542-541=1
1351-1347=4
1631-1629=2
1923-1817= 6
1890-1889=1
1889 =1
1920-1918=2
1922-1918=4
1958-1957=1
1970-1968=2
1970-1968=2
2010-2009=2
2003-2002=2
2016-2014=4
2021-2015=7
15+2+1+4+2+6+1+1+2+4+1+2+2+1+1+2+7= 54:17= 3,1